sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Terapia do Amor Verdadeiro

Agora vamos falar do poder de cura do amor. O amor como terapia ideal; ou, mais ainda, o amor como única força capaz de nos humanizar. Terapia no melhor significado da palavra: como alcançar altos níveis de consciência, de percepção, de sensação - de vida.

A primeira qualidade, a mais simples e ingenua, é a boa adaptação corporal. Quando você está se dando muito abem com uma pessoa, seja em pé, seja sentado, seja andando, seja deitado, de qualquer jeito que você se aproxime ou se envolva, vocês se encaixam - e tudo fica bom. Quando você não está se dando bem com alguém, tudo atrapalha, o joelho, o cotovelo, o nariz, o olhar... - e a gente não encontra jeito de ficar perto.

O primeiro passo da relação, dos mais claros e evidentes, surge durante a marcha - ou a dança (juntos). Se você caminha com uma pessoa muito querida, mão no ombro, mão na cintura, mãos dadas - quando  as coisas estão bem a gente dança junto; quando não, começamos a errar o passo, a empurrar, a puxar. Os gestos estão dizendo: separa, separa, separa - porque não está junto mesmo - veja bem.

As minhas expressões são inconscientes para mim, mas não são invisíveis para você - para qualquer um que esteja olhando. Sabe, amiga invejosa todo mundo identifica, assim como a mãe autoritária. Olhou, já sabe como é. Freud eliminou tudo isso da conversa e do relacionamento. Excluiu a relação visual direta com o paciente. Hoje em dia não fazem mais isso, a maioria não faz, mas nos velhos tempos era bem assim: "Fique lá, nem me olhe, nem quero vê-lo.Porque se olho, vejo, mas se você olhar você também verá". Jogo de poder primário.

Minhas repressões, portanto, estão no meu corpo, e alguém que me amasse veria um pouco da minha doença, intuitiva - e não discursivamente. Não estou dizendo que todos vão estudar psicologia, mas sim que quem se interessa muito por mim percebe muito de mim, o que tenho de rígido, de doente, de reservado, de desconfiado. Se a pessoa se deixasse levar fazendo exatamente as carícias que tem vontade, faria comigo uma terapia incrível.

Mas quando começa uma ligação amorosa e são feitos os primeiros gestos, o risco é grande de entrar numa sequencia automática de dar abraço que você sempre deu, de dizer até a frase que você sempre diz.

Ai não está acontecendo mais nada e acaba a comunicação. Se ficarmos olhando bem, tranquilamente, ou muito junto, sentindo, pode-se ver, sentir muito do outro, tudo o que ele tem de carente, de deficitário. Então posso ir lá e amar o que ele tem de encolhido, de defensivo, de parado - de morto. Posso assim fazer com que ele se liberte e retome seu desenvolvimento.

Tudo isso pode acontecer totalmente sem palavras e sem que a pessoa saiba que está fazendo isso.

Mas no limite de um bom amor, isto pode acontecer. As vezes acontece, as vezes não. Se deixo acontecer e/ou se vou sentindo o relacionamento, então ele mostra seu potencial criativo e transformador. Mas se entro em sequencia rotineiras, bem conhecidas minhas, então nada se cria e tudo se repete.

Trechos retirados do livro de José Ângelo Gaiarça "Amores Perfeitos"

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